Não vou importunar o leitor
com teorias sobre Gramsci,
hegemonia, nada disso. Ao
fim da leitura, tenho certeza
de que todos vão entender o que se
está fazendo com as nossas crianças e
com que objetivo. O psicanalista
Francisco Daudt me fez chegar às
mãos o livro didático "Nova História
Crítica, 8ª série" distribuído gratuitamente pelo MEC a 750 mil alunos da
rede pública. O que ele leu ali é de dar
medo. Apenas uma tentativa de fazer
nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo, que
só fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários. Impossível contar tudo o que há no livro. Por isso,
cito apenas alguns trechos.
Sobre o que é hoje o capitalismo:
"Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas
são tomadas pela burguesia, que busca
o lucro pessoal. Para ampliar as vendas
no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado.
O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários."
Sobre o ideal marxista: "Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo
trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é
feito com honestidade para agradar à
(sic) toda a população. Não há mais
ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democrá-
ticas para os trabalhadores."
Sobre Mao Tse-tung: "Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e
economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por
elas foi correspondido. Para muitos
chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador."
Sobre a Revolução Cultural Chinesa:
"Foi uma experiência socialista muito
original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espa-
ço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas.
Velhos administradores
foram substituídos por
rapazes cheios de idéias
novas. Em todos os cantos, se falava da luta contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes. (...) No iní-
cio, o presidente Mao Tsetung foi o grande incentivador da mobilização da
juventude a favor da Revolução Cultural. (...) Milhões de jovens formavam a Guarda
Vermelha, militantes totalmente dedicados à luta pelas mudanças. (...) Seus
militantes invadiam fábricas, prefeituras e sedes do PC para prender dirigentes 'politicamente esclerosados'. (...) A
Guarda Vermelha obrigou os burocratas a desfilar pelas ruas das cidades
com cartazes pregados nas costas com
dizeres do tipo: 'Fui um burocrata mais
preocupado com o meu cargo do que
com o bem-estar do povo.' As pessoas
riam, jogavam objetos e até cuspiam. A
Revolução Cultural entusiasmava e assustava ao mesmo tempo."
Sobre a Revolução Cubana e o paredão: "A reforma agrária, o confisco dos bens de empresas norte-americanas e o fuzilamento de torturadores
do exército de Fulgêncio Batista tiveram inegável apoio popular."
Sobre as primeiras medidas de Fidel:
"O governo decretou que os aluguéis
deveriam ser reduzidos em 50%, os livros escolares e os remédios, em 25%."
Essas medidas eram justificadas assim:
"Ninguém possui o direito de enriquecer com as necessidades vitais do povo
de ter moradia, educação e saúde."
Sobre o futuro de Cuba, após as dificuldades enfrentadas, segundo o livro, pela oposição implacável dos EUA e o fim da
ajuda da URSS: "Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel
Castro sair do governo e o
país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA. (...) Mas
existe (sic) também as
possibilidades de Cuba
voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como
no tempo de Fulgêncio
Batista. Quem pode saber?"
Sobre os motivos da derrocada da
URSS: "É claro que a população soviética não estava passando forme. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o
jantar para cada cidadão. Não existia
inflação nem desemprego. Todo ensino
era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar
as melhores faculdades. (...) Medicina
gratuita, aluguel que custava o preço
de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas... Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência
mundial não queria só melhores bens
de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinham (sic) inveja da classe
média dos países desenvolvidos (...)
Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar
aparelhagens eletrônicas sofisticadas,
roupas de marcas famosas, jóias. (...)
Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único
país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (...)
Fica então uma velha pergunta: e se a
revolução tivesse estourado num país
desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?"
Esses são apenas alguns poucos
exemplos. Há muito mais. De que forma
nossas crianças poderão saber que
Mao foi um assassino frio de multidões?
Que a Revolução Cultural foi uma das
maiores insanidades que o mundo presenciou, levando à morte de milhões?
Que Cuba é responsável pelos seus fracassos e que o paredão levou à morte,
em julgamentos sumários, não torturadores, mas milhares de oponentes do
novo regime? E que a URSS não desabou por sentimentos de inveja, mas
porque o socialismo real, uma ditadura
que esmaga o indivíduo, provou-se não
um sonho, mas apenas um pesadelo?
Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Se
não for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém.