- page 7

Lula, em palavras e números
N
ão há jornalista que tenha estado de algummodo diante do presidente
Lula que não admita que ele é uma pessoa cativante: afetivo, cari-
nhoso, atencioso, brincalhão. Desde a campanha de 1994, e mesmo
antes, sou testemunha disto. Lula tem sempre um sorriso nos lábios, faz
referências a contatos anteriores, conta uma ou outra piada ou situação
engraçada. Até no gestual Lula exercita sua simpatia: dá tapinhas nas cos-
tas, segura o braço do interlocutor enquanto conta uma história, tem um
aperto de mãos sempre enfático.
Mesmo em situações delicadas.
Umexemplo é a entrevista ao
Jornal Nacional
na eleição de 2006. O tema
do mensalão era inevitável, eWilliamBonner e Fátima Bernardes fizeram
as perguntas que tinham de ser feitas: incômodas, abordando as denún-
cias do procurador-geral, explorando as incongruências de Lula durante
os meses em que o escândalo produzia manchete atrás de manchete. Em
ocasiões assim, o salão da biblioteca do Palácio da Alvorada está sempre
cheio de técnicos e jornalistas da equipe do
JN
. Ao fim do programa, Lula
geralmente se levanta e continua conversando com todos, demonstrando
a mesma descontração de antes, talvez com um ou dois graus a mais de alí-
vio. Naquele dia, Lula entrou no salão quase em cima do horário previsto
para o início, mas se mostrou afável como sempre. Deu a entrevista, de-
monstrando irritação e incômodo, mas sem jamais perder o controle. No
fim, levantou-se, pediu licença e se retirou imediatamente. Todos ali acha-
ram que o presidente se ofendera, mas, passados uns cinco minutos, Lula,
recomposto, voltou ao salão e ali se comportou coma simpatia costumeira.
Sempre vi sinceridade nesse tipo de comportamento coma imprensa: Lula
é genuinamente uma pessoa afável. Esta não é, contudo, uma característi-
ca só dele: são muito raros os políticos com comportamento abertamente
hostil diante de jornalistas.
Por esse motivo, esses encontros profissionais ajudam pouco a co-
nhecer as posições do presidente sobre uma gama variada de temas. Por
definição, é na presença de jornalistas que os políticos estão em estado
de alerta: sabem que tudo o que digam e façam será, no dia seguinte, de
1,2,3,4,5,6 8,9,10,11
Powered by FlippingBook